terça-feira, 11 de junho de 2013

HISTÓRIAS DE ANA - Parte 1 : Aquilo que eu não vi

Por Tatiane Montefusco

Fonte da foto: facebookcontraoaborto

Sentada em uma de ante sala de espera  Ana remexia os pés e as pernas sem parar enquanto esperava  por  Suely , não restaria mais unhas nos dedos das mãos e provavelmente nem nos dedos dos pés se continuassem ali por mais tempo.  Angustiada, Ana se perguntou em voz alta encobrindo o rosto com as mãos : O QUE EU ESTOU FAZENDO AQUI !!!!

Ficou apreensiva quando chegaram logo cedo naquela espécie de sítio, sem placas de indicação e  janelas em vidro fumê, foram atendidas  por uma mulher baixinha de cabelos encaracolados e olhos negros que sem cerimônias avisou das condições de pagamento : Apenas em dinheiro! Suely pagou e logo foi encaminhada até um banheiro ao lado de uma área de serviços, com lençóis, roupas e alguns instrumentos cirúrgicos limpos . Ana sentou-se e esperou. 

De repente a mulherzinha apareceu na ante sala novamente deixando a porta entreaberta,  Ana espichou o pescoço mais não viu nada além de um corredor que se perdia de vista na escuridão, tentou perguntar alguma coisa mas a mulher passou apressada em direção a uma outra sala e começou a revirar objetos pesados e utensílios de cozinha. Ana suava frio, sentiu náuseas e uma forte dor de cabeça , quando a mulherzinha saiu correndo carregando uma máquina estranha cheia de botões e duas placas pequenas  de fundo metálico  interligadas,  Ana levantou-se da cadeira e esperou em frente a porta, não conseguia se mover em direção alguma, falar ou pensar. 

Qualquer segundo a mais naquele lugar seria uma eternidade rompida da mesma forma que se instalou, a mulherzinha abriu novamente a porta ofegante com os cabelos desgrenhados como se estivesse em uma luta a dois segundos atrás , parou em frente a garota  segurando e apertando forte suas mãos.

-Menina, desculpe mas sua amiga faleceu. Você vai ter que levar ela daqui.

O rosto pálido de Ana ficou transparente, perdeu-se em pensamentos conturbados e ouviu  apenas palavra faleceu. Respirou fundo como se estivesse entorpecida e divagou em imagens, conversas, lugares e situações o tempo que passou tão rápido. A mulherzinha a chacoalhou por  alguns  instantes  repetindo em voz baixa.

-Você tem que tirar ela daqui!!!

Ana caminhou pelo corredor até desaparecer no escuro, alguns minutos depois saiu do lugar empurrando Sueli em uma cadeira de rodas, a mulherzinha e um homem de barba e cabelos grisalhos acompanharam até o carro . O homem grisalho segurou Sueli nos braços e a ajeitou no banco de trás do carro, Ana sentou ao volante e deu a partida.

Na estrada  o sol brilhava, e o céu de um azul claro carregado de formas-nuvens não apresentava rastros do que aconteceu. Ana dirigia afogada em imagens descoordenadas que  apareciam e desapareciam em uma velocidade perturbadora. De repente, todas as decisões que podem mudar o rumo de uma vida se agrupavam com vozes desesperadas, a solidão, a covardia, o medo, a ilusão perdida, a fraqueza...tudo aquilo que um dia foi amor. Agora era rastro, um resto de sangue, um corpo caído no banco de trás de uma carro!

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