terça-feira, 7 de maio de 2013

COMADRE

Por Tatiane Montefusco 


Carlos não chegava em casa antes das 11:00, a única explicação era o estress  em que estava por causa da crise em sua empresa, a meses a imobiliaria não vendia nada, qualquer negociação mal dava para pagar as despesas atrasadas e o aluguel do espaço. Já havia demitido a recepcionista e colocou sua prima de 15 anos para ajudar, os corretores também não se animavam mais. Manuela também não deixava barato e a pergunta era sempre a mesma para o marido : Onde você estava, me fazendo de otária?

No aniversário de 35 anos de Eduardo seu melhor amigo bebeu e chorou até soluçar, o coitado não sabia mais o que fazer estava pensando até em pegar um empréstimo com agiotas, compadecida a mulher de Eduardo e sua comadre fez uma proposta.
                                                                                                    
Estela :  Olha Carlos, eu to parada em casa recebendo seguro desemprego e ainda tenho uma graninha da rescisão, vamos virar sócios na imobiliária? Eu entro  com essa grana e você me ensina os macetes do negócios.

Carlos enxugou as lágrimas e agradeceu, afinal era um folêgo maior para os negócios  e começaram a trabalhar juntos na semana seguinte. De fato, a princípio Estela não demonstrava muita habilidade com vendas , nem mesmo em lidar com o público, trabalhou a maior parte de sua vida em um pequeno escritório de contabilidade na área adminsitrativa. Mesmo assim a empolgação foi tanta que as vendas aumentaram consideravelmente, nos primeiros seis meses foi tudo muito bem e novamente Carlos começava a chegar em casa lá pelas 11:00 da noite.

Manuela esperava até ele chegar , mas em pleno no domingo a  briga foi tão intensa acordando as crianças quee assustadas correram aos prantos para a sala. Sim, Manuela era ciumenta mais segurou a onda nos últimos anos e não se deixava abater por nada, nunca fez questão de luxos e mimos, ambos construiram a casa vendendo o almoço para comprar a janta e sem deixar faltar nada para as crianças. Carlos além de voltar tarde todos os dias já não fazia questão de dar atenção a esposa, começou até a empurrar a responsabilidade do deficit de atenção para os filhos, como se eles tivessem a obrigação de compensar a mãe por tanta dedicação.

Na segunda- feira o telefone toca e Manuela larga a louça na pia para atender, do outro lado da linha uma voz de mulher diz: Seu marido tem um caso com a minha filha!!! Manuela congelou, era possível ver as veias de sangue em seu rosto e através dos olhos, as mãos trêmulas colocaram o fone no gancho e imediatamente o barraco estava armado.

Catarina a filha mais nova chegou em casa da escola e viu sua tia segurando a mão da mãe em prantos, ambas sentadas no sofá, a choradeira era tanta que ninguém percebeu a garota por ali, de repente um outro parente chega e leva as duas embora, a menina continuou em pé na cozinha por alguns instante quando a perua trazendo o irmão caçula chegou fazendo barulho e ficaram em casa sozinhos até o dia amanhecer. Outra vez as crianças foram acordadas aos gritos, mas agora era a mãe colocando o pai para fora de casa e jogando suas roupas no meio da rua, aos berros ela dizia palavrões e ele sem reação recolheu tudo e foi embora.

Durante os próximos anos não ouviram falar  nem do pai ou da mãe, Manuela em um ataque de fúria arrumou as próprias malas e também deixou a casa. As crianças foram abrigadas pela tia, mas de fato passavam a maior parte do  tempo sozinhas, quando Catarina completou 26 anos fez questão de fazer uma festa de arromba em casa, estava a um passo de receber seu diploma de Psisquiatria.

Seu irmão Mauricio estava no segundo ano de odontologia, ambos não falando muito com seus pais, a mãe tentou se aproximar mais nos útlimos anos depois que Mauricio adoeceu e o pai nunca se manifestou, ás vezes a vizinha do andar de cima contava para Catarina que um carro  preto de vidros fumê ficava horas do outro lado da rua no mesmo ângulo de sua janela, como quem espera alguém aparecer. Catarina deu de ombros, pensou que tanto barulho não poderia ter sido por nada. Quem em sã consciência teria largado a família pela própria comadre em favor de uns trocados e não seria hoje imensamente feliz.


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