sexta-feira, 10 de maio de 2013

AVE ROSÂNGELA


Por Tatiane Montefusco

Rosângela nunca sonhou em ser mãe, mas aconteceu, Lucas ainda dormia ao lado dela  e nunca se acostumou a cama pequena própria para sua idade, todas as tentativas de colocar o garoto em outro quarto não funcionaram, fossem as crises de choro ou a insônia o menino consumia todas as horas em que a mãe não trabalhava fora de casa. Acostumada a essa rotina Rosângela havia engordado uns 20 kilos durante a gravidez, apesar de pouco vaidosa o semblante cansado era bastante acentuado e o mau humor constante, ás vezes descontava no menino pois a paciência foi diminuindo ao passar do tempo, mas nunca havia sido agressiva ou relapsa, Lucas era forte, bonito e saúdavel.

Naquela sexta-feira Rosângela não se aguentava em pé no onibus de volta para casa, a jornada de trabalho dupla era assegurada uma vez que o que terminasse no escritório começava em casa, apesar de duas pessoas em um cômodo não ocuparem muito espaço, o espaço se fazia imenso diante da bagunça acumulada durante a semana e do tanque cheio de roupa para lavar. Rosângela largou a bolsa na cama e foi direto para o tangue, passaram seis, sete , oito da noite e nem sinal do menino, geralmente na sexta-feira  ele sempre chegava entre dezoito e dezenove horas porque a madrinha Cecilia ajudava muito cuidando do menino até a mãe chegar em casa.

Rosângela pegou a bolsa e foi buscar o filho na casa da madrinha Cecília na rua de baixo, ao tocar a campainha Cecilia abriu a porta surpresa:
Cecilia: Ué, o que você tá fazendo aqui?
Rosangela: Eu vim buscar o Lucas.
Cecilia: Mas o Lucas não está comigo, a perua não passou aqui em casa para deixa ele não!
Rosangela empalideu como um Iceberg: Como não apareceu? Como assim? E você não me avisa, não me liga??
Cecilia: Desculpa Rosangela eu pensei que você tivesse pegado o menino mais cedo.

Não havia para onde ligar, a escolinha da prefeitura fechava ás quinze horas, Rosangela foi direto para a Delegacia mais próxima e fez o boletim de ocorrência, deu a descrição do menino com detalhes, os olhos castanhos claros, um metro e vinte de altura, cabelos castanhos encaracolados, pele parda, descreveu o uniforme e o trajeto que o menino fazia todos os dias e esperou. Na segunda-feria foi até a escolinha, conversou com a diretora, a professora os coleguinhas, ninguém viu Lucas sair ou entrar em qualquer. A polícia interrogou o tio da perua  e todas as pessoas que estavam envolvidas na rotina do menino e nada.

Durante oito meses Rosângela procurou em hospitais, IML, lugares próximos, rodoviárias, aeroportos, conversou com estranhos, conhecidos, procurou ajuda em ONG’s, espalhou cartazes em escolas, nas redes sociais e até apareceu em um programa de televisão contado sua história com fotos e descrições, no aniversário de nove anos do menino fez um bolo decorado com carrinhos, acendeu a vela, cantou parabéns e chorou. Chorou por um dia ter desejado que o filho sumisse, por ter desejado que ele não nascesse, por ter lamentado em abrir mão de muitas coisas, por nem saber quem era o pai, sentiu o chão se abrindo aos seus pés, perdeu o emprego por passar tempo demais a procura do menino, perdeu o sono, a alegria e a vontade de viver... Rosângela nunca quis ser mãe.....


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