Por Tatiane
Montefusco
Rosângela nunca sonhou em ser mãe, mas aconteceu,
Lucas ainda dormia ao lado dela e nunca
se acostumou a cama pequena própria para sua idade, todas as tentativas de
colocar o garoto em outro quarto não funcionaram, fossem as crises de choro ou
a insônia o menino consumia todas as horas em que a mãe não trabalhava fora de
casa. Acostumada a essa rotina Rosângela havia engordado uns 20 kilos durante a
gravidez, apesar de pouco vaidosa o semblante cansado era bastante acentuado e
o mau humor constante, ás vezes descontava no menino pois a paciência foi
diminuindo ao passar do tempo, mas nunca havia sido agressiva ou relapsa, Lucas
era forte, bonito e saúdavel.
Naquela sexta-feira Rosângela não se aguentava em pé
no onibus de volta para casa, a jornada de trabalho dupla era assegurada uma
vez que o que terminasse no escritório começava em casa, apesar de duas pessoas
em um cômodo não ocuparem muito espaço, o espaço se fazia imenso diante da
bagunça acumulada durante a semana e do tanque cheio de roupa para lavar.
Rosângela largou a bolsa na cama e foi direto para o tangue, passaram seis,
sete , oito da noite e nem sinal do menino, geralmente na sexta-feira ele sempre chegava entre dezoito e dezenove
horas porque a madrinha Cecilia ajudava muito cuidando do menino até a mãe
chegar em casa.
Rosângela pegou a bolsa e foi buscar o filho na casa
da madrinha Cecília na rua de baixo, ao tocar a campainha Cecilia abriu a porta
surpresa:
Cecilia: Ué, o que você tá fazendo aqui?
Rosangela: Eu vim buscar o Lucas.
Cecilia: Mas o Lucas não está comigo, a perua não
passou aqui em casa para deixa ele não!
Rosangela empalideu como um Iceberg: Como não
apareceu? Como assim? E você não me avisa, não me liga??
Cecilia: Desculpa Rosangela eu pensei que você tivesse
pegado o menino mais cedo.
Não havia para onde ligar, a escolinha da prefeitura
fechava ás quinze horas, Rosangela foi direto para a Delegacia mais próxima e
fez o boletim de ocorrência, deu a descrição do menino com detalhes, os olhos
castanhos claros, um metro e vinte de altura, cabelos castanhos encaracolados,
pele parda, descreveu o uniforme e o trajeto que o menino fazia todos os dias e
esperou. Na segunda-feria foi até a escolinha, conversou com a diretora, a
professora os coleguinhas, ninguém viu Lucas sair ou entrar em qualquer. A polícia
interrogou o tio da perua e todas as
pessoas que estavam envolvidas na rotina do menino e nada.
Durante oito meses Rosângela procurou em hospitais,
IML, lugares próximos, rodoviárias, aeroportos, conversou com estranhos,
conhecidos, procurou ajuda em ONG’s, espalhou cartazes em escolas, nas redes
sociais e até apareceu em um programa de televisão contado sua história com
fotos e descrições, no aniversário de nove anos do menino fez um bolo decorado
com carrinhos, acendeu a vela, cantou parabéns e chorou. Chorou por um dia ter
desejado que o filho sumisse, por ter desejado que ele não nascesse, por ter lamentado
em abrir mão de muitas coisas, por nem saber quem era o pai, sentiu o chão se
abrindo aos seus pés, perdeu o emprego por passar tempo demais a procura do
menino, perdeu o sono, a alegria e a vontade de viver... Rosângela nunca quis ser
mãe.....
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