quarta-feira, 24 de julho de 2013

A PUTA E A SANTA

Por  Tatiane Montefusco

Valdirene regava as plantas de sua varanda todos os dias, de tão bem tratadas causavam inveja na vizinhança e suas rosas eram roubadas no meio da noite, ficava furiosa com tal indelicadeza, tanta dedicação para que no dia seguinte o desfalque fosse maior que a quantidade cultivada. Depois de trabalhar 33 anos na mesma empresa se aposentou como secretária, começou como faxineira e foi subindo de cargo a medida que se dedicava aos estudos e se dedicou muito.
O barulho de movéis se arrastando começou cedo, a risada alta e o salto quicando no chão desagradou de imediato, era um prédio simples sem segurança, elevador ou portaria, qualquer um com cópias das chaves ou  que apertasse o interfone do apartamento poderia entrar facilmente. Valdirene estava se preparando para interromper tudo aquilo colocando a blusa de frio e os chinelos no pé quando tocou a campainha.

Ao abrir a porta se sentiu ofendida, quem era aquela com meio corpete de renda preto e mini-mini saia vermelha, o sapato era Louboutin a meia calça trifil 70 e o bustiê... lindo.
Juliana: Bom dia vizinha, tudo bem! Eu sou a Juliana do apartamento 4 ao lado, acabei de vir do trabalho e estou sem nada, você tem um café?
Valdirene ficou atônita, mas a espontaneidade foi tamanha que ao perceber a situação, Juliana já estava na cozinha procurando uma caneca.
Valdirene: Desculpe, mas você está fazendo muito barulho e ainda são 7 da manhã, o horário aqui é as 10.
Juliana: Nossa, desculpe! Se eu não fizer logo todas as coisas assim que eu chego, só amanhã de manhã.
Valdirene não gostou nada das atitudes da moça, mas relevou, para ela essa juventude é descabeçada, não sabem o que querem nem para onde vão. Juliana tomou seu café devagar e fez um monte de perguntas. Você mora sozinha?  Quantos anos tem? A sua família mora por perto? Você tem cachorro? Tem namorado? Ex marido? Filhos...
Valdirene: Desculpe, não consigo processar tanta informação, pode voltar mais tarde. E empurrou Juliana porta fora até fechar na cara.
As semanas se seguiram com a mesmo ritmo, o barulho agora era mais a noite a partir das 20:00 um entra e sai, risadinhas charmosas e conversa fiada, até as plantas de Valdirene murcharam, tadinhas, aí a mulher enloqueceu, vestiu as chinelas e bateu na porta da vizinha tarde da noite.
Valdirene: Desculpe, não sei o que faz e não me interessa, mas aqui é um prédio residencial e todos nós estamos muito incomodados com o barulho, em qualquer horário.
Juliana: Nossa, desculpa vizinha. Isso é tempórario, eu também não gosto de baderna em casa, mas ou é isso ou eu não trabalho.
Valdirene: Mas não tem como você trabalhar em silêncio?
Juliana: Ás vezes !
Valdirene não sabia se expulsava a moça do prédio ou arrumava-lhe um quartinho na garagem e soltou em voz alta: O que eu faço com você!??
Juliana: Calma vizinha, pelo amor de Deus!!! Pra rua ou pra boite eu não posso voltar. Se não ele me acha, se não ele me mata!
Valdirene ficou azul, diante da situação virou as costas e voltou para casa sem dizer uma palavra. Na manhã seguinte Juliana apareceu na porta com olheiras profundas e um bolo. Valdirene olhou de cima pra baixo e deixou a moça entrar.
Valdirene: O seu trabalho, qual o problema?
Juliana: Eu trabalhava em uma boite, foi o que arrumei quando cheguei em São Paulo lá de Divinópolis do Sul no Amapá. Então um cliente gamou em mim, ficou louco mesmo, começou a me perseguir, me ameaçar, me fez proposta de casamento, mas eu não largo essa vida, eu gosto!
Valdirene: Amapá! E lá você fazia o que?
Juliana: A mesma coisa, só que ganhava menos, bem menos. Sei lá, vocação né, cada um tem seu talento, e você?
Valdirene: Sou daqui, aposentada como secretária.
Juliana: Eu disse que era provisório, mas não sei quando posso voltar pra rua, eu tenho medo!
Valdirene respirou fundo e sentiu uma estranha empatia pela moça e até uma ponta de inveja, plantas são boas companias, animais também, mas faltava algo na vida de Valdirene, uma história, uma linha mal escrita, um caso, um ato de coragem.
Valdirene: Chame esse rapaz aqui!
Juliana: O que?
Valdirene: Chame aqui e me avise, quando ele aceitar eu te explico. Mas antes me de o nome completo dele, o verdadeiro! Se não tiver me mostre quem é.
E lá se foi Juliana atônita e confusa fazer exatamente o que Valdirene lhe pediu. E assim aconteceu, o senhor aceitou o convite, e na hora marcada foi até o apartamento de Juliana que estava vestida á carater para função. O cliente chegou ás 20hs pontualmente e o local já estava preparado, meia luz, cadeira no meio da sala chicotes e algemas, fetiche clássico e básico para começar. Juliana vendou seus olhos e o despiu, jogou o senhor de meia idade na cadeira e colocou- lhe as algemas, coisa básica. O senhor se empolgou bastante e deu-lhe a soltar palavrões e frases promíscuas diversas, que diversão!!!!
Juliana deu uma, duas, três chicotadas entre carícias e juras de amor- violento....Valdirene aparece da cozinha e tirou a venda dos olhos do moço, ao acender a luz até o papagaio da família estava assistindo a sessão......SUPRESA!!!!!

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