quinta-feira, 23 de maio de 2013

VITÓRIA

Por Tatiane Montefusco 

Carlos esperava com certo ar de angústia naquele bar a mais de uma hora e nada...olhava o relógio de 5 em 5 segundos, checava no celular se havia alguma mensagem perdida, mas ligar não ligava, jamais daria esse gostinho. Pediu a terceira cerveja gelada e um outro copo americano e esperou, quando finalmente aceitou que havia levado um bolo se sentiu um ótario, levantou logo da cadeira já pedindo a conta, quando ela apareceu. O cabelo preto ondulado não cobria os ombros mas destacava os olhos castanhos quase esverdeados, os fios dos cachos as vezes se enroscavam nos lábios compridos, o vestido vermelho de alças finas ressaltava as qualidades e escondia os defeitos afunilando estratégicamente na cintura até a metade das coxas, deixando as pernas grossas a mostra.

O garçom se aproximava de Carlos com a conta quando foi atropelado por um tsunami caindo sobre Carlos, em um abraço forte de quando as mãos deslizam pelas costas e se encontram do outro lado, em um aperto sem folêgo como se tivesse corrido a São Silvestre para chegar até ali, e ele acabou por pedir outra cerveja.

-Demorei???

-Não, que isso!

-Desculpa, trânsito horrível! Que chuva hein, essa cidade está cada vez pior!  

Foram as últimas palavras proferidas naquela noite, que terminou em um quarto qualquer de um hotelzinho vagabundo,Carlos acordou com a moça da limpeza batendo a porta e do resto nem sinal. Ficou furioso, se sentiu usado e inacreditavelmente idiota.
-Mais uma vez, que merda!!!

A quase três anos vivendo essa ladainha não saberia distinguir de quem sentia mais raiva, de si mesmo ou dela, pagou a conta e foi embora. No dia seguinte encontraram-se na copa do escritório e conversaram normalmente como fazem os colegas de trabalho. Vitória nunca fazia comentários sobre sua vida íntima, qualquer assunto contrário ao trabalho era ignorado ou simplesmente interposto por um outro assunto. A notória fama que se adquiri por agir com autonomia, nesse caso, não chegou aos ouvidos de Carlos, ele desconfiava que provavelmente não era o único mas como não costumavam trocar mais que duas palavras em tanto tempo, restava apenas a incerteza.

Jurou e fez promessa a todos os santos que conhecia de nunca mais atender ao telefone, responder a mensagens e estar a disposição 24 horas. Aceitava qualquer convite para sair, de balada rave a festa de criança, não teria mais critérios em relação a mulher alguma, fosse simplesmente mulher era forte candidata a preenchar a vaga aberta em sua vida.

Em uma dessas investidas conheceu Laura, moça bonita e inteligente, se encaixava de certa forma no esteriótipo da loira perfeita para desfilar por aí. Carlos e Laura conversavam e se davam muito bem, iam ao cinema, ao teatro, a restaurantes conhecidos, foram juntos a algumas festas de amigos, faltava apenas um pedido mais direto para oficializar o namoro que poderia acontecer a qualquer momento, até que o celular tocou.

Carlos olhou a chamada enfurecido e estava determinado a não atender, colocou o celular no modo silencioso trancando dentro da gaveta de sua mesa, e assim ficou até o final do expediente. As 18:00 organizou as pastas e arquivos para a reunião do dia seguinte, desligou o computador e a fonte que estava debaixo da mesa, quando se levantou sentiu novamente aquele abraço forte imobilizando seus movimentos...não se sabe ao certo os efeitos de uma mulher cafageste a única certeza é que Laura ficou esperando até hoje!  


Nenhum comentário:

Postar um comentário