domingo, 31 de março de 2013

O CORPO

Por Tatiane Montefusco

O barulho do mar nos ouvidos, a tormenta, a chuva forte, tempestade, as vezes abria os olhos e enxergava o céu, o sol. As ondas gigantes e enfurecidas, a água gelada, a imensidão, sentiu , calou - se, engolindo o choro...o coração parou por alguns segundos, rendeu-se.

A correnteza levou para longe o corpo frio que continuava em movimento frenético brigando com a vida para não se afogar, xingando os demônios que surgiam pelo caminho, afastando os velhos fantasmas. Encontrou destroços , um pedaço de vida  qualquer, segurou firme, enquanto a maré subia e descia,  jogando o corpo pra cima e pra baixo sem destino.

Meu corpo está dolorido, minha alegria se escondeu de mim,  meus pés inchados ainda se movimentam, tenho pedras, neurônios não mais, vejo coisas.As luzes se apagaram como as lembranças do sorriso solto, da inocência,  hoje o sonho confuso  não me deixa dormir em paz. Eu sou o reflexo pálido de alguém, observando a vida atrás da porta com a visão desfocada,tateando em silêncio.Foi quando eu senti um aperto nas mãos, um afago emprestado de um corpo cansado assim como o meu,  e quando eu ouvi uma voz me chamando, me pedindo , suplicando para voltar.

Os médicos haviam desistido, foram as 72 horas mais angustiantes para a família, era a segunda vez em menos de seis meses, ninguém compreendia ou queria entender. Não fizeram perguntas, não ouve conversa, como em um passe de mágica a tragédia se apagou , como se as palavras não ditas fossem o remédio que sanasse a dor. Os pulsos marcados, os cortes nos braços, os olhos inchados e vermelhos ,  as vizinhas teriam comentado o tal do acidente, se os barulho dos socos, se a força dos chutes e a frequências dos gritos  não deixassem isso claro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário