quarta-feira, 3 de abril de 2013

365 DIAS - DIA 1


Por Tatiane Montefusco 

O sol começava a despontar  depois de uma noite inteira na beira da cama de hospital. Uma cidade frenética tem seus momentos de calma, a poucos dias do ano novo Alessandra já não fazia mais planos a vida agora era esperar.Às  7:00 da manhã a enfermeira coloca mais uma bolsa de soro com morfina em Maria Alice, bastante debilitada , um rosto pálido , corpo fino, nem sombra daquela mulher cheia de alegria que sorria tão facilmente quanto se esquecia das dificuldades, não chorou por um momento, não se desculpou , nem se arrependeu .

- Preciso ir pra casa, estou aqui desde o Natal, meu telefone está na ficha dela por favor me liguem se for necessário. Alessandra pegou a bolsa e saiu em passos pesados e lentos, o corpo dolorido e quase acostumado a poltrona de acompanhante no quarto, pedia uma cama macia e lençois familiares. A enfermeira saiu apressada atrás dela. Oi, acho que você deixou isso cair. Uma jóia de argonite feita a mão, como se um pedaço de parafina pudesse mudar alguma coisa, manter a energia rara que se esgotava mais a cada dia.

Ao sentar no ônibus vazio recostou a cabeça no vidro e mesmo com a trepidação cochilou, não, simplesmente dormiu até seu destino. Cada minuto de sono era valioso, a insônia consumia Alessandra desde a adolescência o cansaço não ajudava muito quando o corpo dolorido continuava desperto, mais uma noite mais uma pílula para ajudar . As olheiras eram permanentes agora , com o fim do recesso de fim de ano a preocupação de Alessandra era como ir em frente, trabalhando e cuidando de Maria Alice.

Em casa não teve muito animo para qualquer arrumação, sentiu uma solidão profunda e mais uma vez Terezinha fazia barulho com o novo namorado no quarto ao lado. Alessandra não era de perder tempo invejando alguém, mas dessa vez sentiu uma ponta de inveja pela aparente facildade que Terezinha tinha em fazer amigos e trocar de namorados. Ela nunca estava sozinha e geralmente com boa companhia sempre  com alguém bem disposto a bancar o mordomo, o cozinheiro, o pai e todos sem excessão excelentes amantes com técnicas mirabolantes e posições inimagináveis que fariam cinquenta tons de cinza parecer um livro infanto juvenil. Aquela altura não havia nem disposição para uma briga, quanto mais o tempo passava mais calada Alessandra se fazia, o quanto sentiu, o quanto desejou nem ela mesmo sabia agora.

Era mais barato viver assim, e já não saberia viver de outra forma. Alessandra perdeu seus pais jovem e desde então qualquer estranho que pudesse dividir as contas era companhia bem vinda, muitas vezes nem companhia se fazia, apenas a rápida convivência no final do mês para acertar as despesas, até que no começo de Outubro um telefonema revelou uma outra história.

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