Por Tatiane Montefusco
O barulho do mar nos
ouvidos, a tormenta, a chuva forte, tempestade, as vezes abria os olhos e
enxergava o céu, o sol. As ondas gigantes e enfurecidas, a água gelada, a imensidão,
sentiu , calou - se, engolindo o choro...o coração parou por alguns segundos,
rendeu-se.
A correnteza levou para
longe o corpo frio que continuava em movimento frenético brigando com a vida
para não se afogar, xingando os demônios que surgiam pelo caminho, afastando os
velhos fantasmas. Encontrou destroços , um pedaço de vida qualquer, segurou firme, enquanto a maré
subia e descia, jogando o corpo pra cima
e pra baixo sem destino.
Meu corpo está dolorido,
minha alegria se escondeu de mim, meus
pés inchados ainda se movimentam, tenho pedras, neurônios não mais, vejo
coisas.As luzes se apagaram como as lembranças do sorriso solto, da
inocência, hoje o sonho confuso não me deixa dormir em paz. Eu sou o reflexo
pálido de alguém, observando a vida atrás da porta com a visão
desfocada,tateando em silêncio.Foi quando eu senti um aperto nas mãos, um afago
emprestado de um corpo cansado assim como o meu, e quando eu ouvi uma voz me chamando, me
pedindo , suplicando para voltar.
Os médicos haviam desistido,
foram as 72 horas mais angustiantes para a família, era a segunda vez em menos
de seis meses, ninguém compreendia ou queria entender. Não fizeram perguntas,
não ouve conversa, como em um passe de mágica a tragédia se apagou , como se as
palavras não ditas fossem o remédio que sanasse a dor. Os pulsos marcados, os
cortes nos braços, os olhos inchados e vermelhos , as vizinhas teriam comentado o tal do
acidente, se os barulho dos socos, se a força dos chutes e a frequências dos
gritos não deixassem isso claro.